Crónica de Alexandre Honrado
O circo dos horrores
Não me conformo com um mundo tão disfuncional, que festeja a globalização com o seu 5G – o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga, coisa estúpida e tão inútil que só seria interessante se ajudasse a apagar a pegada imunda que a civilização humana deixou na destruição do mundo -; que festeja o que é doente, como a alienação, a proibição ou a repressão, negando-se a saúde da solidariedade, da proximidade, da pacificação.
É tão órfão o que perde os entes queridos como o que perde a capacidade de chegar ao outro, por barricar-se na trincheira absurda da sua imagem, do seu egocentrismo, da sua falta de cultura, no que é patológico e todavia até lhe parece lógico.
Vejo a lista dos candidatos às autárquicas e como um dos partidos, onde a demência dá a mão ao nanismo e ambos à manipulação dos incautos e ingénuos – os que dizem com orgulho que nunca votaram, ou que nunca participaram, ou que temem os comunistas que, se formos a ver bem, nem a sombra de um temor conseguem produzir, os que temem simplesmente…- e como um dos partidos, indigno desse nome, pois nem a sua casa soube arrumar, faltando ao respeito das instituições que lhe permitiram a existência, ou que não mostrou as suas ideias porque não as tinha, começando por fazer entender isso mesmo entre os seus, vejo como um dos partidos na corrida eleitoral se assemelha muito àqueles circos dos horrores, do fim do século 19 e início do século 20, que exibia anomalias humanas como destaques em espetáculos (que ficaram exatamente conhecidos como “Circo de Horrores”), embasbacando as audiências. Eram verdadeiros atentados à dignidade humana, esses “shows”, muito populares nos EUA, com elencos que incluíam anões, albinos e qualquer tipo de pessoa que fosse deformada por doenças. Tal qual o corredor agora cheio de candidatos deformados, desejosos de deformar o que resta de uma Democracia que chegou ao ponto de acolhê-los, respeitando-os como se fossem seus iguais.
Alguém me disse que já não existe o outro. O outro como amigo, o outro como inferno, o outro como mistério, o outro como desejo – a sociedade tóxica e patológica, que começou a dar jogos eletrónicos e aparelhos parentes aos seus descendentes desde o berço, tornou-se o banal do igual, um corpo social doente, um lugar comum na lista do circo. Dos horrores.
Não me conformo com um mundo tão disfuncional, que insulta os seus heróis e aplaude os seus traidores.
O medo, os movimentos identitários, os nacionalismos, os racismos, as homofobias, a globalização e o terrorismo, eis a autodestruição e a depressão, o esgotamento (que agora por ser moda, é palavra substituída pelo anglicanismo burn out impedindo ao doente que se reveja na doença, a menos que o traduzam).
As eleições aproximam-se. Trazem consigo o circo dos horrores e os nossos talibãs. Venham ver um deformado a exibir-se nas feiras, arrastado por uma anã, dizia o cartaz de há mais de cem anos.
Às armas, contra eles. Contra os traidores, marchar, marchar.
Alexandre Honrado
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